sábado, 16 de outubro de 2010

Eu...

De todas as manhãs que vive com certeza essa é a mais fria. O vento era suave em meu corpo e molhava minha pele. O céu com certeza estava escuro e eu estava com um livro na mão, pode ser qualquer autor, naquela hora nem mais lembrava que existia um livro sobre minhas mãos, o que via era aquele céu e o som que vinha dele, parecia uma orquestra. As flores ficaram tristes e lindas ao mesmo tempo.
Quando criança minha professora perguntava-me, por que suas histórias acabam em morte? Por que o fim de todas as coisas é a morte e o tempo que as determinou, somente por isso. Lembrei de quem era o livro, era meu, eu escrevi quando estava apaixonado, por isso ainda estava todo escrito a mão, e eu olhava umas fotografias que tinha dentro desse livro. Minha esposa, como era jovem, linda! Eu era feliz por ver a felicidade em seus olhos, o sorriso que saia de sua boca, depois vi um beijo já velho e sem amor, um beijo que esqueceu do passado de uma chama que vivia entre nós dois.
O primeiro verso do sexto poema desse livro me chama a atenção: "E eu tenho medo, medo de dizer o que sinto, de expressar o que quero" E tentava lembrar, por que escrevi aquilo, mas minha memória já não é a mesma. O menino estava próximo a mim, já era moço, formoso, meu neto por certo, deu-me um beijo no rosto e disse-me até logo.
Voltei a olhar aquele poema, na verdade os poemas me prendem, me deixam tão presos num mundo exterior ao meu, que me perco e nem sei por onde voltar. O próximo verso me faria lembrar por que escrevi sobre meu medo, era naquela mesma pagina e eu havia escrito: "Mas ela superou meu medo por mim, deu-me um beijo e eu a beijei". Minha esposa hoje, fora a mulher que me libertou do meu medo de beijar a vista de todos, não foi por causa daquele beijo que nos casamos, mas foi por ordem do destino que opera, que só nos encontramos mais velhos, mas ainda éramos moços, ainda não havíamos concluído oficio de estado civil, então não a deixei passar, a peguei e casei-me.
Ao final do livro tinha um bilhete, acho que deixei lá de recordação, caso um dia voltasse a ler esses poemas. Escrevi, escrevi frases soltas, mas a que mais me chamou a atenção foi a que direis agora: "De todas as coisas que vivi sei que mais tarde na velhice não hei de lembrar todas, mas lembrarei os melhores momentos, então é por isso que faço de minha vida momentos inesquecíveis", então chorei, pois lembrei de quando moço, os sorrisos que dei, das pessoas que amei, das travessuras, como se tudo fosse se acabar e lembrei que todos os momentos de minha vida deveriam ser inesqueciveis até a sua própria despedida se viesse, então vive, vivo, e escrevo para anos futuros pode lembrar da mesma esperança que tive quando moço, na minha velhice ter novamente.

Um comentário:

  1. Muito interessante, profundo. Rs. Vou continuar lendo seus posts, espero que continue postando coisas legais, Beijo! :)

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